Doutoras Misteriosas
Data:24/10/2018 - Hora:10h25
De repente a mamãe se desespera, o filhinho está dodói coitadinho, celular na mão, ligar pro doutor, ver se ele pode atender, marcar a consulta, pagar R$ 300 na chegada, aquela receita de no mínimo o mesmo valor na farmácia, tudo pelo restabelecimento da saúde da prole, faz parte e quem é pai ou mãe conhece esta via sacra. O mesmo vale para aquela dor na coluna, torcicolo, gastrite, dor de cabeça, enfim, as mazelas do cotidiano que incomodam a gente, desafiando as medicações com seus efeitos colaterais. Mesmo com planos de saúde, a tal brincadeira séria não fica muito barato e pelo SUS, aSUStem-se, por menos de uma semana, você não passa sequer por um clinico geral, aquele medico que nos anos 50 e 60 do século XX era o medico do prá tudo, só nas capitais, haviam os gatos pingados especialistas. Hoje, são dezenas de especialidades, quiçá, centenas, já me falaram até de terapeuta consteladora, (pensei que era de estrelas, mas é holística, da alma); já me falaram de uma medicina integrativa, cuja prática propõe uma parceria do médico e seu paciente para a manutenção da saúde, coisas de século XXI, porque nos tempos do onça, da benzedeira dos passes místicos, raízes, rezas e simpatias, a fé substituía tudo isso. Por falar em tempos do onça (e, não da onça do cais do Rio Paraguai), sem desmerecer a evolução e revolução da medicina, naqueles idos, as grandes auxiliares dos médicos prá-tudo, salvadoras de vidas em comunidades rurais e periferias das cidades, eram as misteriosas doutoras do mato. Místicas benzedeiras, com seus raminhos, rezas em línguas estranhas, passes e sinais cruzados, benzimentos e chazinhos, simpatias e garrafadas, sem marcar ou pagar consulta, a gente sempre sarava do aperreio que incomodava o corpo. Ainda criança, me lembro de uma destas benzedeiras, uma senhora humilde, sexagenária, sem estudos, mas que dominava as rezas e ervas, conhecendo formulas para curas, poderia dizer, uma cientista popular, que mesclava o misticismo e os conhecimentos curativos das plantas, para aliviar sofrimentos das pessoas. Minha madrinha falava de Dona Maria Valeriana, uma benzedeira amiga dela em Cuiabá, que não gostava quando as pessoas diziam que ela curava quebrante, espinhela caída, mau olhado, cobreiro e vento virado. Para a cuiabana nascida nas margens do rio Cuiabá, na comunidade de São Gonçalo, quem curava era Deus e Nossa Senhora, as plantas deixadas por Deus na natureza, ela era apenas uma auxiliar de Jesus e nunca cobrava um centavo pelos seus trabalhos. Se como diz Helman, a representação das doenças se dá através de um conjunto de sensações desagradáveis e sintomas (cansaço, fraqueza, dor, mal-estar, febre), sendo o corpo, veiculador de mensagens que, ao serem apropriadas pelos indivíduos conduzem ao seu significado, as benzedeiras nunca estiveram erradas em seus diagnósticos. Para as sensações mencionadas, a flora medicinal é profilática e associada às mensagens de fé, a cura torna-se consteladora,***___Rosane Michelis – Jornalista, pesquisadora, bacharel em geografia e pós em turismo.
fonte: Rosane Michelis
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