Por trás dos Mexericos
Data:22/03/2018 - Hora:08h59
A divulgação de informações de conteúdo duvidoso demonstra o desejo de calúnia e difamação contra figuras dos meios artístico e político. Tal ação deixa-nos com a “pulga atrás da orelha” sobre o direito da privacidade e imagem. Envereda-se pelo abuso da liberdade de expressão, e falta de respeito e ética: todos os brasileiros têm uma ameaça concreta pesando sobre o corpo do caráter. A imagem das pessoas está exposta, sem perspectiva de garantia, de aprovação de leis que garantam um de seus patrimônios de grande valor: a moral. Pela falta de atualização das leis civis, penais e da Internet, estamos sujeitos a ser agredidos em questão de segundos por um acessório que produza uma montagem de sua imagem e exponha à humilhação, à violência e ao deboche. Nem todos, porém, sabem o que está ocorrendo, agem sem reflexão em movimentos mecânicos. Na história universal sempre existiu tendência repressiva contra as obras de arte e seus respectivos autores, ou a figuras que trazem uma nova proposta humanitária e social, seja apenas algum bem ao país ou mundo. Não são poucos os que se espantam.
Tentaremos levantar algumas pontas dos véus negros que costumam cobrir estas ações que revelam uma face grotesca do homem medíocre, ordinário, medieval, inquisitório e covarde. Estas notícias plantadas nos meios de comunicação exalam um odor característico e fétido vividos na ditadura. Renasce das cinzas um tempo de mentiras e hipocrisia, a TFP desfila na boca da noite, calada pelo chumbo da bala do medo e da repressão. A mesma bala hipócrita, canalha e doente que assassinou John Lennon. Os famosos anos do autoritarismo tiveram conseqüências múltiplas na vida brasileira, especialmente em nível existencial. Pode-se dizer que eles transformaram o próprio caráter nacional. Passamos por modificações tão significativas que elas afetaram a nossa própria alma.
A psicanálise coletiva desses anos ainda será devidamente feita. Que nos sirva, aqui, apenas uma observação simples. Uma das principais modificações foi o crescente desprezo pela sinceridade em nosso relacionamento social e, conseqüentemente, a aceitação da mentira, da representação hipócrita, como norma natural de conduta na sociedade. Éramos um povo jovem e ingênuo. Viramos cínicos. A sinceridade foi substituída pela habilidade astuta em jogar com as palavras na base do não-me-comprometa, por exemplo. Mentir parecia mais verdadeiro que a própria verdade. Podemos comprovar o raciocínio ao olhar nas bancas de jornais e revistas o grande número de publicações sensacionalistas, contendo fofocas da vida particular de astros, estrelas da TV e cinema. Isto nos deixa perplexos e temerosos com o quadro triste e desolador que se forma: não estamos preparados para a liberdade e a democracia. Ocorre, sim, uma inversão dos conceitos e valores. Somos considerados pelo submundo do crime apenas um número no cartão de identidade. A atitude mais sensata e de bom senso, ao receber um e-mail ou panfleto deste tipo é jogá-los no lixo, evitando a divulgação do conteúdo maldoso. ***___Rubens Shirassu Júnior, escritor e pedagogo de Presidente Prudente, São Paulo. É autor, entre outros, de Religar às Origens (ensaios e artigos), 2011 e Sombras da Teia (contos) 2016.
fonte: Rubens Shirassu Júnior
» COMENTÁRIOS
|
|
Publidicade
High Society
|