O Brasil nunca foi capitalista!
Data:23/1/2018 - Hora:08h16
Marx sabia que qualquer possibilidade concreta de se construir o socialismo real dependeria do esgotamento do sistema capitalista, ou seja, ele precisava ser instalado e promovido até seu ponto máximo de evolução das forças produtivas e da tomada de consciência das forças vivas da sociedade de que não seria mais possível avançar sem a abolição da propriedade privada em larga escala dos meios de produção, que nada tem a ver com sua casa, sua loja ou escritório, tampouco sua esposa e filhos.
Tratam-se daquelas propriedades que de tão fora da realidade daquilo que 90% da população mundial usufrui acaba por engessar a economia, impedindo que ela cumpra seus objetivos fundamentais de garantir acesso para todos aos bens móveis e imóveis de consumo, essenciais para uma vida digna, mesmo que não haja uma planificação radical, e uns possam ter mais do que os outros, a depender do esforço e da necessidade de cada um.
O que não pode haver é um quadro onde alguns têm tanto capital que não sabem sequer o que fazer, assim como não levarão consigo para a eternidade, sem falar que muitas vezes torna-se motivo de conflitos homéricos entre os sucessores, famintos por abocanhar a fatia mais recheada da fortuna deixada; enquanto outros tenham tão pouco que além de não ter o que deixar, igualmente não têm o que dar no presente para os seus filhos, que, sem expectativas de herança, perdem até a expectativa de vida, por desnutrição, doenças sanitárias, entre outras "causa mortis" precoces, invertendo a ordem natural da vida, levando os pais a enterrarem os próprios filhos.
Lembrando que o capitalismo em questão seria aquele que nutre a livre iniciativa e concorrência leal, a proibição do monopólio e do oligopólio, inclusive da terra, e sabe que a miséria é muito mais cara para o sistema, como raiz de convulsões sociais, do que a garantir o mínimo existencial para cada um subsistir às adversidades econômico-sociais da vida na Terra.
Portanto, no Brasil, o que o pensamento conservador, na verdade, o retrógrado defende, não chega nem perto da perspectiva clássica do liberalismo econômico, ante-sala do capitalismo. Tem muito mais afinidade com o feudalismo, o coronelismo, patrimonialismo e a plutocracia.
Eles sequer sabem que os direitos civis duramente atacados por eles daqueles que não se adequam aos padrões sectários e ortodoxos de uma sociedade que esconde e tem vergonha da sua própria diversidade são fundamentos básicos do Estado moderno, constituído, a princípio, pelos liberais, que escreveram a bico de pena a Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão de 1789, na França, e deram o pontapé no iluminismo.
Programas de distribuição de renda mínima e de quotas raciais foram gestados, nada mais, nada menos, pelo Banco Mundial, grande representante do neoliberalismo contemporâneo.
A instituição de conselhos gestores de políticas públicas e de direitos, a democracia participativa e semidireta, longe de serem conspirações bolivarianas, estão em perfeita consonância com os mecanismos de controle social existentes na Europa, talvez até na China.
A valorização do trabalhador, representada por direitos, garantias e benefícios diversos, nos países com melhores IDH do Mundo, como os países escandinavos e o Canadá, por exemplo, são vistos como investimento que aquece e dinamiza as economias locais, não como gargalos que bloqueiam o crescimento de qualquer país. Exemplo bem claro e didático é o da Alemanha, hodiernamente sendo a economia mais pujante e líder disparada da União Européia, tendo atropelado a Inglaterra, eis que lá a hora trabalhada do empregado do chão da fábrica é muito mais cara do que a nossa, não impactando e/ou comprometendo em nada sua altíssima competitividade nas redes globais do comércio exterior, menos ainda prejudicado seu mercado consumidor interno.
Na verdade, no Brasil, vende-se muitas falácias, compradas até de graça por parte abundante da população, sobretudo da classe média alienada e das nossas elites atrasadas. E neste momento vivenciamos umas das ondas mais avassaladoras de alienação e retrocesso, mediante o emburrecimento de muita gente, a desindustrialização acelerada do nosso parque produtivo e o acúmulo de capital como não visto desde o período das capitanias hereditárias.
O mais alarmante, porém, não é ver a ganância e inescrupulosidade dos bandidos de altíssimo escalão, no entanto, a passividade e até concordância de uma parte expressiva da população que aderiu ao engodo de que o país seria reposto nos trilhos, que o mal maior seria banido, que a política de "austeridade fiscal" e as reformas promovidas pela quadrilha que tomou de assalto Brasília, sem se submeter ao processo democrático, por mais que ele possa ser falho, porém, financiada pesadamente, com o compromisso de dar a contrapartida, pagar a fatura do impeachment e da manutenção do governo Temer até aqui.
Todos estamos pagando com a receção da economia, com o sumiço do dinheiro da praça, com os juros extorsivos e acachapantes dos bancos, com o preço da gasolina, da luz e da compra do mercado.
E você ainda acha que não foi um golpe? Sem falar de partidos contra partidos, mas de crápulas travestidos de representantes da vontade popular, contra o próprio povo que alegam representar.
Renovação total em Brasília, já!
Paulo Lemos é advogado
fonte: Paulo Lemos
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