Uma oração à vida no 6º ano de falecimento do Prof. Natalino Ferreira Mendes
Data:24/12/2017 - Hora:10h37
Acervo Familia
“Ora (direis), ouvir estrelas”.
Uma oração à vida no 6º ano de falecimento do Prof. Natalino Ferreira Mendes (*03/01/1924 +23/12/2011)
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pátio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
Muitos poetas cantaram o amor pelos céus e pela terra brasileira, pelas velhas árvores, pela pátria e pela língua, como Olavo Bilac, autor dos versos acima. Muitos de nós ouvimos (e declamamos) seus poemas na escola, cantamos a capacidade romântica, reconhecemos seus versos e já nos pegamos em conversas com as estrelas.
Eu sou um desses tresloucados.
Quando, há seis anos, o meu pai deixou este espaço terreno, em 23/12/2011, disse ao meu neto (perdendo o senso) que o seu “bivô” havia se transformado na maior e mais brilhante estrela. Acho que funcionou, pois vez ou outra aponta estrelas, sem se importar com a verruga na ponta do dedo... Mas essa é outra história.
Estrelas sinalizam mistérios ocultos que a linguagem universal do amor se encarrega de decifrá-los, como fala Bilac. A morte é um desses mistérios. O sentimento de perda de alguém que amamos muito e, principalmente, dos que se uniram para nos dar a vida, é a dimensão profunda da orfandade. Sabemos da morte como vida renascida, inexorável comprovação da finitude, ou uma forma de olhar/sentir as insignificâncias e a respiração do universo em nós.
Estrelas me trazem memória. Do meu pai, contemplador delas, no silêncio das noites claras, e nas escuras em que as encontrava, quedando-se em êxtase perante o infinito e o efêmero. Trazê-lo à memória, pelas palavras, é acalentar a alma, revigorar o espírito, destravar o que ainda pode ser dito, escrito, pensado.
No clima de Natal encontro sempre o seu nome: Natalino. Na genealogia, sua raiz: Ferreira Mendes. E sinto o cheiro das circundantes morrarias, do serpenteio do rio lambendo a cidade, do respirar da história gravada nos casarões e monumentos, tudo o que ele procurou reter e expressar/cantar em verso e prosa, compondo a melodia do seu tempo. E tudo isso se mistura num sentimento de celebração: dos mistérios, da vida, da morte, da renovação e do poder divino que nos torna sensíveis aos segredos que exalam do etéreo sistema do universo.
Relembro-o como uma fulgurante luz, a luz renascida no Natal, sempre acesa nos nossos corações e no coração daqueles que virão depois de nós, pois viveu e compreendeu a plenitude do Ser – aquele capaz de ouvir e entender estrelas...!
Que assim seja!
fonte: Olga Maria
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