Semiótica
Data:03/10/2017 - Hora:08h13
Que tipo de escola é essa que forja empresários e líderes políticos autoritários? Essa escola é o Brasil. Aqui se aprende desde cedo a não ter idéias, a não usar a cidadania, a mandar e a obedecer simplesmente, a não respeitar o macacão do operário e a adular o terno e a gravata. Temos uma formação fundada na semiótica, formada no simbólico e submisso do Brasil que começa pelo próprio texto da bandeira do País. Um certo modelo social, econômico, político e cultural que tem marcado o Brasil, começando pelo fato do País ter sido a oitava economia capitalista do mundo e o quarto exportador mundial de produtos agrícolas. Uma economia que chegou perto do primeiro mundo, através de um caminho autoritário, moderno, internacionalizado, e que teve um custo, que hoje se paga: dívida externa de mais de 800 bilhões de reais, milhões de pessoas na miséria absoluta, salário mínimo em torno de 300 dólares, educação e saúde deterioradas, violência urbana, uma economia submersa garantindo de forma perversa a sobrevivência de milhões de pessoas.
É impossível compreender a gravidade da crise brasileira sem um profundo mergulho nas suas origens históricas mais remotas. Segundo, porque o diagnóstico atual não nega a interpretação anterior, mas a pressupõe e a desdobra para contemplar as novidades históricas dos últimos quarenta anos. Necessita-se enfrentar as causas profundas do subdesenvolvimento, retomando, assim, a bandeira perdida nos anos sessenta. Sem temer a estigmatização que recai sobre aqueles que não se submetem ao asfixiante consenso da modernização (dos padrões de consumo), Celso Furtado defende em linguagem simples e direta a urgência de uma ruptura com a situação de dependência externa - um tabu que poucos, mesmo nos setores mais à esquerda do espectro político, ousam colocar na agenda política do País.
Em meio milênio de história, partindo de uma constelação de Reitorias, de populações indígenas desgarradas; de escravos transplantados de outro continente, de aventureiros europeus e asiáticos em busca de um destino melhor, chegamos a um povo de extraordinária polivalência cultural, um país sem paralelo pela vastidão territorial e homogeneidade lingüística e religiosa. Mas nos falta a experiência de provas cruciais, como as que conheceram outros povos cuja sobrevivência chegou a estar ameaçada. E nos falta, também, um verdadeiro conhecimento de nossas possibilidades, e principalmente de nossas debilidades. Mas não ignoramos que o tempo histórico se acelera, e que a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação.
Muito se descreveu com precisão a estratégia nefasta, na tentativa de destruir psicologicamente os opositores do capitalismo mesquinho, medíocre e autoritário do Brasil. Apanho uma situação limite, mas que é apenas o indicador de uma condição mais ampla, geral e irrestrita, em que procuro colocar os fatos e aqueles que os produzem. Querem que nos convençamos de que o horizonte não existe. E que a noite é eterna. Nós, que cultivamos os livros, desrespeitamos a gramática, subvertendo as palavras, rejeitamos a censura e as normas dogmáticas das cartilhas stalinistas, que adoram o Estado e a ciência. Um novo olhar reconstruindo esperanças e utopias.****___ Rubens Shirassu Jr. é escritor, poeta e pedagogo de Presidente Prudente, São Paulo. Autor, entre outros, de Religar às Origens (ensaios e artigos, 2011) e Sombras da Teia (contos, 2016)
fonte: Rubens Shirassu Jr
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