Eu, Delator!
Data:25/07/2017 - Hora:06h49
Vi minha irmã conversando com um rapaz em frente ao cinema e fui dizer aos meus pais que ela estava namorando (sem que estivesse). Eu só queria fazer o circo pegar fogo - e a história era um prato cheio para as guerrinhas que acontecem entre irmãos. Como ela era ainda muito jovem, ouviu uma baita lição de moral e ainda foi punida com uma bronca terrível. E eu, hoje pensando no caso, lembrei que ainda tenho o crédito de uma premiação - que na época não recebi. Estávamos no final dos anos 60, e eu tinha meus nove ou dez anos de idade. Com o meu gesto - reconheço - acabara de me tornar um delator.
Sempre que ouço falar em delação o primeiro nome de que me lembro é o de Judas Iscariotis: por algumas moedas de prata ele entregou Jesus Cristo aos soldados romanos. No final, arrependido, suicidou-se.
Antes de Judas, antes ainda do nascimento de Jesus Cristo, Brutus já havia traído Júlio César (o imperador romano) e conspirado para o seu assassinato. Brutus tem, assim, a fama de ser o primeiro traidor da história. Suicidou-se, no final. Muitos outros traidores apareceram por aí. Lembro-me de alguns. Augusto Pinochet traiu Allende no Chile. Foi acusado da prática de diversos crimes, sofreu infarto em prisão domiciliar, e morreu de parada cardíaca. Himmler, chefe da polícia nazista, tentou negociar a rendição da Alemanha aos aliados na segunda guerra. Tendo sido um dos responsáveis pela política de aprisionamento em campos de concentração e eliminação em massa, foi considerado criminoso. Também se suicidou. Tommaso Buscetta, que na década de 80 buscou refúgio aqui no Brasil, entregou o esquema da máfia na Itália. Como recompensa ganhou proteção especial e um dinheirão: morreu de câncer. No entanto, a máfia não deixou por menos: acabou com a vida de muitos de seus familiares. Na história do Brasil há dois "grandes" traidores: Calabar e Joaquim Silvério dos Reis. Quando os holandeses, na condição de invasores, aqui estiveram no século XVII, Domingos Fernandes Calabar os auxiliou em suas conquistas. Foi, por isso, taxado de traidor da pátria, morreu na forca. Seus restos mortais foram esquartejados e espalhados em praça pública, assim como, futuramente, viriam a ser os restos mortais de Tiradentes, traído por Joaquim Silvério dos Reis, na Inconfidência Mineira do século XVIII.
Com a deleção premiada, muito em voga hoje em dia, o investigado (ou acusado) ganha legalmente a oportunidade de tirar para si algum proveito: confessa um crime, delata os envolvidos, traz provas e novidades. Com isso é premiado com a redução dos danos na pena que lhe for aplicada, exemplos desta década do século XXI, Roberto Jefferson, Delcídio do Amaral, Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Marcelo Odebrecht, Joesley Batista, Ricardo Saud e não pára aí, surge um novo traidor-delator a cada dia. Tantos que Silvério dos Reis, que até a pouco ostentava o título de maior traidor do Brasil, corre o risco de perder essa sua posição de unanimidade no rol de nossos "gloriosos" traidores. E eu fico aqui na esperança de ainda receber uma premiação pelo crédito de delator que tenho, e inspirado no Salmo 51:10 da Bíblia, peço a minha recompensa.
***___Elias Guara.
fonte: Elias Guara
» COMENTÁRIOS
|
|
Publidicade
High Society
|