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Lembranças de quintal
Data:28/07/2016 - Hora:10h06

Os varais, esticados e entrelaçados de uma parede a outra, deixavam o céu curiosamente todo repartido. Ligeiramente acabrunhado, via com perplexidade a lonjura que nos separava. Por minha conta e risco, calculava, assim de bobeira, como quem não quer nada, que aquelas estruturas trançadas, suspensas como obras do acaso, sem torres, alicerces ou pilares de sustentação, estavam a léguas de distância do solo.

Ficavam tão altos que mesmo na ponta dos pés, levantando o braço com todas as minhas forças, não era capaz nem ao menos de triscar nas camisas que se agitavam como bandeiras desde seu topo, fato que, diga-se de passagem, nunca me entristeceu, pois a contemplação, como também tem seus encantos, já me satisfazia de alguma forma. Sem tirar nem por, relutante até mesmo às investidas da racionalidade, que volte e meia tentavam me convencer do contrário, confesso que aqueles fios, ademais de verdadeiras extravagâncias da arquitetura moderna, eram, para mim, os meus arranha-céus.

Mas como nem tudo o que vivenciamos ou experimentamos é um mar de rosas, devo dizer que simultaneamente ao fascínio narrado, com muita preocupação, acompanhava diariamente o assoberbado e arriscado trabalho dos prendedores e grampos de roupas lá pelas bandas de cima. Definitivamente, o cenário não era muito animador pra eles. Além de não usarem equipamentos de proteção ou terem quaisquer direitos sociais assegurados, precariamente, à mercê da própria sorte, embora não estivessem num espetáculo circense, exerciam suas funções tendo de literalmente se equilibrarem numa corda bamba.

Baixo rajadas de ventos, calor extremo e tempestades, não esmoreciam, balançavam, rodopiavam, se contorciam, mas não caiam. Sua determinação era admirável, heroica. Reconheço que ainda é um mistério, como tantos outros que carrego desde a minha infância, precisar a origem da garra e da destreza com que fugiam dos cúmulos e acúmulos do destino, trazendo, quase que milagrosamente, com rédeas bem curtas, junto a si, a vida que deles pouco a pouco se esvaia.

Alguns deles, os mais velhinhos, na casa dos 6 meses de idade, apurados pelo tempo e suas intempéries, já estavam enrugados, esgotados,

cabisbaixos, com a pele cheia de manchas. Condição que, cá entre nós, não haveria de ser diferente, posto que se minimamente naquelas circunstâncias não dispunham sequer de capacetes de segurança, óculos protetores e cintos especiais, a possibilidade de passar filtro solar era mais do que uma utopia, um devaneio.

Lamentavelmente, de vez em quando, para o meu infantil desespero, numa manobra equivocada, um membro da equipe de trabalhadores despencava e se estatelava no chão. O impacto era tão severo que seu corpo se despedaçava. Voava uma parte pra cá, outra pra lá, e a mola que as ligava, dificilmente era encontrada. Não havia velório, tampouco enterro. Em respeito ao sucedido, no máximo, o recinto, mui respeitosamente e com certa comoção, se calava por alguns minutos, para, em seguida, tudo recomeçar a girar.

A fim de não despertar ciúmes ou intensificar recalques naqueles que por ali também tocavam seus dias, registro que meu interesse na região, seja de admiração, seja de espanto, não estava somente nas alturas. A minha ingênua atenção, entre idas e vindas, igualmente se perdia em outros planos e direções. Não havia como negar, aquele era o meu mundo, a minha ilha dos tesouros, o espaço onde sem preguiça ou fadiga eu treinava o meu desassossego.

Cada canto me contava uma novidade, alimentava a minha peraltice e afagava a minha imaginação. Inventando aventuras, cambainha, saracoteando de um lado pro outro, encontrava compridas cavernas de cupins por entre os rejuntes dos muros, descobria os esconderijos ultrassecretos de formigas e lagartixas nos azulejos soltos e assistia à corajosa escalada de uma mãe carrapato, com um punhado de carrapatinhos acampados em sua cacunda, rumo ao meu cachorro. As descobertas eram cheias de adrenalina e emoção, até porque, naquele quintal, com a mente e o coração sempre por preencher, abertos para o desconhecido, costumava me importar mais com as qualidades do que com as quantidades.

 

José Ricardo Menacho: Professor do Curso de Direito (UNEMAT/Cáceres), Autor do livro “O Plural do Diverso”, ed. Novo Século.




fonte: José Ricardo Menacho



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